Jussara Romero só vê números no vermelho: a alta inflação no Brasil e as complicações resultantes da pandemia a obrigaram a se endividar cada vez mais, embora isso fique cada vez mais caro com o aumento das taxas de juros.
Apesar de 2021 se antecipasse como o ano da recuperação econômica após a pandemia, a crise volta a castigar os brasileiros, incluindo a classe média.
Preocupa especialmente a inflação de 10,74% em 12 meses até novembro, que corroeu o poder de compra. Para contê-la, o Banco Central aumentou de 2% a 9,25% a taxa básica de juros, a Selic, entre março e dezembro, arrastando as outras taxas do mercado.
Para Jussara, que lida com despesas e dívidas em atraso, este aumento representa um peso extra, sem ainda se refletir no alívio na inflação.
O frango, por exemplo, aumentou 22,9% entre janeiro e novembro, e o diesel, quase 50%.
"Em casa trocamos marcas de produtos, deixamos de ir para o trabalho de carro e suspendemos saídas", conta à AFP esta empreendedora de 37 anos, que administra uma creche e mora com a família no sudeste de São Paulo.
Mas ela só conseguiu um alívio adiando pagamentos com o cartão de crédito... Até a próxima fatura.
"Me preocupa que com os pagamentos parcelados tudo fique mais caro, mas não tenho alternativa", diz à AFP Jussara, que pediu, inclusive, um crédito para cobrir parte de suas despesas domésticas e os juros que acumula.
A taxa média do crédito rotativo para financiar o cartão disparou em novembro a 346,1% ao ano, após uma alta de 18,3% em 2021.
Assim como Jussara, muitas famílias brasileiras recorreram a este tipo de crédito diante da perda do poder aquisitivo e já "se vê uma parte maior da renda das famílias dedicada a cobrir os juros", explica Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.